Se para um "Velho Mundo", principalmente na apática e burguesa Europa, a globalização é apresentada como demónio a afuguentar, existe um "Novo Mundo", encabeçado pela China e India (mas também pelo Brasil e Russia,…), para quem essa mesma globalização é fonte de multiplas oportunidades.
Com o boom das dot-com, a megalomania do investimento realizado em projectos de telecomunicações permitiu a conexão global por "banda larga", possibilitando a transferência de informação de um qualquer lugar, a qualquer momento para um outro qualquer lugar do mundo. Ironicamente, quando o boom das dot-com estoirou, a globalização não implodiu. Pelo contrário, recebeu o seu mais forte impulso. Entre outros factores, o excesso de fibra optica instalada, a falência de muitas empresas que nela investiram e a venda ao desbarado dessas infraestruturas, fez com que o preço das comunicações e transferência de dados, voz e imagem se tornasse practicamente irrelevante.
Aliado a este facto, as dinâmicas de digitalização de processos, o investimento massivo nas economias emergentes, a abertura destas ao comércio mundial e a disponibilidade de talento e vontade de trabalhar que os seus povos demonstram, colocam todos perante uma nova realidade, a de um mundo que se está a tornar cada vez mais plano (a ler: "O Mundo é Plano - uma breve história do século XXI", de Thomas Friedman).
As empresas "passaram" a deslocalizar não só unidades de produção, mas tembém partes do seu processo de trabalho que agora podem ser "produzidas" em qualquer parte do mundo, de forma não só mais barata, mas muitas vezes melhor. I.é, através de processos de Offshoring (deslocalização: transferencia da produção de determinadaos serviços para o estrangeiro), como por exemplo a de uma fábrica de Portugal para a China e de Outsourcing (pegar numa tarefa especifica, mas limitada, que uma empresa realizava internamente, e arranjar uma outra empresa que a desempenhe e depois a reintegre na operação global da primeira) como por exemplo a transferência da elaboração de um relatório, por um Laboratório de análises, de Portugal para a India, ou das cobranças, ou de um call center, ou …tantas e cada vez mais tarefas que podem ser realizadas por quaisquer pessoas em qualquer parte do mundo, tenham elas os conhecimentos e a tecnologia para o fazer.
Se por um lado temos a oportunidade de acesso à competição global daqueles cuja relação qualidade/preço é melhor, por outro existe o perigo para aqueles cujo mercado deixou de ser local/nacional/regional e passou a ser objecto de concorrência mundial. Se para Chineses e Indianos (e para muitos outros…) as oportunidades são enormes e a vontade destes as aproveitar ainda maiores, já para os actuais priveligiados, com EUA e Europa á cabeça, nada mais será igual. E se os EUA parecem estar atentos, a "Velha Europa" não mostra perceber sequer o que se está a passar. Apesar de paises como a Inglaterra e a Espanha, ou alguns dos novos aderentes de Leste, parecerem capazes de sobreviver e progredir nesta envolvente, outros continuam, qual "cegonha" com a cabeça enfiada na areia, a agir como se não fosse nada com eles.
E Portugal? Continua a chamar a si dores burguesas, insistindo no D. Sebastião que um dia o irá salvar, seja ele um qualquer choque tecnológico, uma OTA ou um TGV, ou enfrenta a realidade, e decide que mais do que esperar que lhe façam a vida é melhor fazer pela vida?
Infeliz, ou felizmente, a tremenda força da realidade fará acordar este paÃs dormente, para a necessidade de cada um se preparar neste novo mundo de desafios e oportunidades, o que só é possÃvel pelo trabalho e qualificação das pessoas, das empresas e do paÃs. Tal é no entanto obrigação, e direito, de cada um de nós, não de uma entidade terceira e abstrata designada por Estado. Este terá, isso sim, que reduzir o seu peso na economia, liberalizando, e libertar a energia (e o dinheiro) para o empreendimento liderado pelos seus cidadãos e suas organizações.
Num mundo em que o talento é o que conta, em que não existem barreiras geográficas à participação na economia global, e em que qualquer empresa, grande ou pequena, pode aceder ao melhor conhecimento disponivel e fornecer qualquer cliente em qualquer parte do mundo, para um pequeno paÃs como Portugal, por muitos que sejam os perigos, maiores são as oportunidades.
Ricardo Luz