Infelizmente, para os que consideram a liberdade a maior das conquistas, são muitos os portugueses que aplaudem os crescentes atropelos do Estado. Parece existir no seu íntimo uma fé inexplicável no "bom ditador", aquele que põe na linha os "maus", sempre "os outros". Infelizmente para todos, "os outros" somos nós, apenas não sabemos quando.
"Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada. Maiakovski, Poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin escreveu, ainda no início do século XX".
O Estado foi entrando cada vez mais profundo na nossa vida. Iludidos pelas pseudo-vantagens dessa intromissão fomos esquecendo que ela contém em si um preço demasiado elevado a pagar, a liberdade! A liberdade enquanto conceito e a liberdade enquanto direito de decidirmos a nossa vida. Sem o perceber, vamos reduzindo a nossa esfera económica e social, deixando a mesma ser invadida pela "ditadura" do Estado, facto que vem acontecendo sob a "asa protectora" da democracia.
Sob a capa do "Estado Social", o Estado vende-nos a "ilusão" da igualdade, como algo possível de atingir pela sua acção "correctora" da realidade, por natureza desigual. Esta ilusão vai entranhando num povo que, incapaz de ver o todo e mesmo de imaginar a vida sem a presença do Estado, é crescentemente escravizado, sempre em nome de grandes ideais, sempre em nome de grandes projectos igualitários, sempre em nome de uma abstracção que, pela repetição, se vai tornando cada vez mais real. É assim, passo a passo, que o caminho da servidão se vai fazendo.
Lá longe, numa pequena cidade do Estado americano de New Jersey, "os órgãos municipais estavam abertos e funcionavam somente durante três dias por semana. A razão era simples: o Partido Republicano local, que a governa desde sempre, entende que o governo deve ser módico, minimamente interventivo, e que deve deixar os cidadãos conduzir as suas vidas, sem os maçar permanentemente. Em seguimento lógico deste minimalismo governativo, as autoridades locais aplicam uma reduzida carga fiscal, proporcional aos serviços prestados, e muito menor do que poderiam, se quisessem, cobrar. No fim de contas, dizem, o governo existe para servir os cidadãos na justa medida do que eles podem precisar e requerer. Tudo quanto seja ultrapassar isso é considerado abuso, logo, não é tolerável. Em última instância, tratar-se-ia de meter o nariz nos "negócios" alheios, o que é uma evidente falta de educação." Lá longe, pelo menos em algumas partes desse imenso território, o liberalismo existe. Lá longe, é nos Estados Unidos da América, uma Federação de Estados, onde a igualdade ainda é vista como ponto de partida e não objectivo da chegada.
"We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed, by their Creator, with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty, and the Pursuit of Happiness", primeira frase do preâmbulo da Declaração da Independência, 1776.
Em tempos acreditou-se que o Estado servia o povo, subsidiariamente, naquelas funções que este, enquanto indivíduos e associações de indivíduos, não conseguia realizar. Ingenuamente pensou-se que estas eram a garantia da soberania nacional, da segurança interna, da justiça, da propriedade...mas depois alguém se lembrou que também "teria que" garantir a saúde, a educação, a igualdade de género (!!!?) e...e mesmo com tudo isto, mesmo empobrecendo, uma grande parte lá ia trabalhando e inventando soluções e dinheiro para satisfazer a voracidade do Estado e os interesses que este, em nome de todos, servia. Mas agora o Estado, nas suas múltiplas formas, descobriu a palavra mágica, que também era sua função garantir a competitividade, dos portugueses, das empresas e do próprio país. E será em nome da competitividade que, todo e qualquer organismo, irão gastar dinheiro público nas mais fantásticas ideias e empreendimentos, sempre a bem do povo, sempre com os seus impostos e com o seu empobrecimento.
A liberdade individual, mais do que factor de promoção da abundância económica e da paz civil, é o princípio definidor do Homem enquanto ser moral. Mas a liberdade só existe se a soubermos conquistar e conservar. Uma sociedade que permite sistemáticos atropelos do poder governativo, invariavelmente justificados por falácias colectivistas, não é composta por homens livres, nem aspira à liberdade.
"Com efeito, é difícil imaginar como é que homens que renunciaram completamente ao hábito de se governarem a si próprios podem ser capazes de escolher devidamente aqueles que devem governá-los, e não é possível acreditar que um governo liberal, enérgico e hábil consiga sair dos sufrágios de um povo de servos". Alexis de Tocqueville, in "Da Democracia na América".
Ricardo Luz