A economia portuguesa precisa de concorrência, não da "mão visível" e protectora do Estado. Precisa da boa concorrência, aquela que requer regras claras, simples e de aplicabilidade célere. Precisa de eficaz regulação. Precisa que o Estado não seja, ao mesmo tempo, regulador e operador, seja no sector da saúde, no sector do capital de risco ou em qualquer outro sector de actividade.
A Regionalização é claramente uma necessidade e uma oportunidade, principalmente hoje, em que os territórios surgem cada vez mais como espaços de concentração de pessoas de elevada qualificação profissional e de actividades de significativo valor acrescentado.
É imperativo para a competitividade das regiões a intervenção de nível local e a cooperação entre as instituições públicas e privadas. Desenvolver Modelos de Empreendedorismo capazes de se assumirem como factor de inovação, competitividade e coesão social, e de desempenhar um papel crucial no desenvolvimento territorial. Modelos que devem ser implementados, não por voluntarismo do estado ou de entidades por si financiadas, mas em regime de parceria entre agentes económicos e sociais de modo a que, pela conjugação de esforços, se potenciem dinâmicas da sociedade.
Em Portugal, podemos encontrar diversas iniciativas que visam o fomento do empreendedorismo, que vão desde a realização de acções de formação em empreendedorismo, organização de concursos de ideias, criação de parques/centros de incubação, disponibilização de instrumentos de financiamento 'especiais', serviços de apoio à constituição de empresas, etc. No entanto, apesar de honrosas excepções, o normal voluntarismo das mesmas e a ausência de uma cultura de avaliação tem gerado equívocos, parecendo que tais políticas e acções têm contribuído mais para a vulgarização do termo do que para o fomento do empreendedorismo. A ideia, que lhe está subjacente, é muitas vezes a de que é possível 'fazer' empreendedores. Algo até hoje impossível de confirmar.
O apoio ao desenvolvimento do Empreendedorismo deve ter em consideração as estratégias de desenvolvimento da região onde se concretiza, e ser capaz de estabelecer uma plataforma/rede de contacto entre ideias e projectos, empreendedores, financiadores, investidores, catalisadores e facilitadores. Deve mobilizar recursos, agentes económicos e institucionais, reunindo competências e angariando meios, com vista a potenciar o desenvolvimento das regiões.
Para tal, mostra-se fundamental perceber o que está subjacente ao empreendorismo em termos de componentes imateriais e materiais. Bem como saber o que já existe na região neste âmbito e quais os recursos endógenos com capacitação económica, competências e capacidades instaladas. Deste 'confronto' resultará um modelo sustentável de promoção do empreendorismo, estruturado e efectivo, capaz de se assumir como factor de competitividade, inovação e de desenvolvimento regional.
Em suma, visa-se simultaneamente, promover o Empreendedorismo de base tecnológica e as suas formas de financiamento, apoiar o funcionamento em rede e a cooperação entre empresas inovadores e estas com 'centros de saber', e fomentar o desenvolvimento económico, social e ambiental da região.
O capital de risco é especialmente importante para a concretização de um modelo de empreendedorismo com bases sólidas, e especialmente adaptado ao financiamento da fase inicial da vida das empresas que resultem de "spin-offs" das tecnologias que existem nas Universidades. Universidade que têm especial responsabilidade pelo futuro das regiões onde se inserem, e que se devem articular com as suas congéneres, próximas -ex. Universidades do Porto, de Aveiro e do Minho- no sentido de criarem regiões que se batam com o que há de melhor na ibéria, na Europa e no mundo. Mas a rivalidade não deve assentar em publicações em revistas, nem mesmo em patentes, mas antes em empresas designadas de "high tec, high growth", com origem nessas mesmas Universidades. Empresas que podem fazer a diferença, marcando o ritmo de desenvolvimento do seu sector a nível global.
Para que tal seja possível, a Universidade precisa de ser desafiada pela comunidade envolvente e de desafiar essa mesma comunidade. As regiões portuguesas têm condições de criar instrumentos que acelerem e alavanquem este processo, reservando uma fatia expressiva de meios financeiros para investir em projectos inovadores a implantar nessas mesmas regiões. Deve procurar-se projectos disruptivos face aos quadros em que as empresas e as Universidades se têm movido até agora, colocando-lhes mesmo desafios de encontrar soluções para problemas vividos por segmentos da população e das empresas, ou para as necessidades do espaço territorial.
As empresas tecnológicas, na fase inicial de vida, precisam de capital, nalguns casos (sector da saúde, por exemplo) de muito capital. O capital de risco é adequado a financiar esse tipo de projectos, assumindo os riscos e partilhando os sucessos, vendendo mais tarde a sua participação.
Ricardo Luz