Universidades corporativas ganham forma em Portugal
A Unimed e o Concelho empresarial dos Vales de Lima e Minho (CEVAL) vão estrear as suas universidades corporativas em 2007. Um termo com raízes nos EUA. No país, empresas como a SonaeCom aproximam-se do conceito com as suas próprias escolas de negócio.
A capa é estratégica. Atrai. Chama-se universidade corporativa. Foi a General Electric (GE) que estreou o conceito nos Estados Unidos, em 1954. Em Portugal, a designação começa a ser agora adoptada. Duas novas estruturas vão emergir no fim de 2007: Universidade Corporativa Unimed e Universidade Corporativa do Ceval (Concelho Empresarial dos Vales de Lima e Minho). Com o conceito subjacente, existem em Portugal estruturas como a SonaeCom Learning Centre e a Escola de Negócios do Grupo Lena.
As futuras universidades empresariais nortenhas partiram de uma proposta da universidade de Fernando Pessoa. "Oferecemos 'Know-how' para estruturar os cursos e corpo docente", conta Miguel Trigo, responsável pelo projecto. "Com os cursos, os trabalhadores podem obter créditos universitários e diplomas, u factor forte de atracção".
No final de 2007, a Universidade corporativa Unimed, do Grupo Português de Saúde, deverá abrir as portas a um alvo superior a 100 mil alunos. Miguel Gouveia Brito, director geral Norte da empresa de medicina no trabalho, higiene e segurança, explica:"A Unimed tem uma diversidade de fornecedores e prestadores, além dos colaboradores internos. Sentimos necessidade de uniformizara formação às exigências da empresa. Além disso, a área da saúde é muito técnica e temos necessidade de nos aliarmos a alguém, até mesmo para estrutura o produto".
"Só o número de trabalhadores dos clientes ascende a 100 mil pessoas. Acrescem cinco a seis mil fornecedores e os mais de 300 funcionários da Unimed", salienta.
O foco passa da aprendizagem individual para a aprendizagem organizacional. O ênfase é colocado nas estratégias de negócio. O objectivo é alinhar as iniciativas de formação com a missão da empresa, garantindo uma mensagem unificada e uma linguagem comum. Alcançando, em fim, uma cidadania corporativa.
Estes são os princípios das chamadas "corporta university", analisadas pelo professor catedrático Joaquim Borges Gouveia e pelo doutorando Joaquim Felício Júnior, ambos da Universidade de Aveiro e autores de "working paper": "Universidade Corporativa na era do Conhecimento".
A primeira versão de "corporate university" surge nos anos 50 em solo norte-americano pelas maõs da General Electric. Sucedem-se instituições como a Disney University. As universidades apresentam-se em diversos formatos e tamanhos. Algumas, como a Dell University, assumem o formato virtual. Outras, como a Motorola University, te^m unidades espalhadas no mundo.
Joaquim Borges Gouveia e Joaquim Felício Júnior falam numa mudança de paradigma entre o tradicional centro de formação e o aparecimento das universidades corporativas. Estas estabelecem parcerias com instituições do ensino superior e criam programas adaptados à realidade da empresa. Para tal, os quadros da própria organização assumem o papel de formadores.
Subjacente a este conceito está a ideia de que a educação corporativa estimula o orgulho dos colaboradores e fortalece o seu vínculo com a organização. Ao contrário da formação tradicional, o público das universidades corporativas deixa de ser apenas interno e passa a ser também externo, incluindo, fornecedores, revendedores, distribuidores e clientes em geral.
De uma forma tradicional reactiva e pontual, passa-se para uma formação proactiva e continua. Uma pesquisa efectuada por Jeanne Meister, presidente da Corporate university XChange, revela que, em 1998, 25% das universidades corporativas forneciam créditos, oriundos de parcerias com instituições de ensino superior, são reconhecidos para fins de obtenção de um diploma.
Ricardo Luz, da Gestluz Consultores, considera que o primeiro projecto formal em Portugal de uma universidade corporativa surgiu em 2002, na WeDo Consulting, do Grupo Sonae, de que resultou a WeDo University, uma parceria com a Nova Fórum da Universidade de Lisboa (NUL). O sucesso do modelo fez com que surgisse, em Janeiro de 2005, o SonaeCom Learning Centre (SCLC).
"É a tradução do conceito de 'corporate university', um conceito que reflecte a vontade das empresas em mudar da formação tradicional para um conceito mais alargado e continuado de educação", comenta Anabela Magalhães, directora de recursos humanos da SonaeCom.
"Queríamos ter uma solução formativa centralizada e que pudesse abranger todos os colaboradores das diferentes áreas de negócio. E contribuir para o alinhamento com os objectivos da SonaeCom. A principal vantagem prende-se com o maior reconhecimento e envolvimento de todos no projecto."
Em vez de formações pontuais, os colaboradores têm, numa primeira fase, um Programa de Gestão Inicial, durante uma semana, onde aprendem tópicos financeiros e módulos como recursos humanos e planeamento estratégico. Os professores vêm das universidades parcerias ou do interior da própria empresa. " O estado da arte do negócio é explicado por Luís Reis, "chief operational officer" da SonaeCom. Há uma interligação entre a vertente teórica e a realidade da empresa".
Numa fase seguinte, os colaboradores frequentam o Programa Geral de Gestão, uma formação de duas semanas dirigida a colaboradores com mais experiência. Paralelamente, existem Programas Avançados de Liderança, Gestão Estratégica, Marketing e Finanças, direccionados aos quadros do topo.
"já realizamos 19 acções deformação que envolveram 450 colaboradores (25% do total) e um total de 25.600 horas de formação", diz a directora de RH da SonaeCom, grupo que canaliza um orçamento anual de 600 mil euros para a SCLC, 3 a 5% da massa salarial.
A empresa, que tem parcerias com a Escola de Gestão do Porto (EGP) e a Faculdade de ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica, quer agora alargar o âmbito do seu "learning center" aos agentes das marcas SonaeCom.
Escolas de negócios "indoor"
Cada vez mais, existem empresas que apostam em formação de alto nível, adequando-a à progressão na carreira e aos objectivos estratégicos do grupo. Podem assumir, ou não, o nome de 'universidades corporativas'", ressalta Ricardo Luz.
O consultor aponta o exemplo da Escola de Negócios do Grupo Lena. "Uma ideia que partiu do departamento de recursos humanos para alinhar a formação dos colaboradores às estratégias do grupo", conta Margarida Oliveira, directora de RH da empresa. Entre os programas oferecidos pela escola, destaca-se o PGM GL - Programa de Gestão à Medida do Grupo Lena.
Formada em 2004, esta escola de negócios é hoje uma empresa autónoma, tem parcerias com o ISCTE e IPL (Instituto Politécnico de Leiria) e pretende, no curto-prazo, fornecer créditos para obter equivalências a licenciaturas e pós-graduações.
Formada em Janeiro de 2005, a Escola de Formação Jerónimo Martins também tem parcerias com instituições, como a Universidade Nova, INSEAD e IMD. Localizada no Feira Nova de Telheiras, a escola visa uniformizar os programas de formação, promover a difusão do "know-how" existente internamente nas suas empresas de distribuição em Portugal. Um projecto que pretende fomentar a partilha a partilha de experiências e consolidar uma cultura de grupo.
Lúcia Crespo