O ano de 2010 está a terminar, e para muitos portugueses foi (mais) um ano de sofrimento. O "magnifico" mundo que ao longo dos anos lhes foi sendo prometido, com educação, saúde, emprego, habitação e reforma para todos, esvaiu-se. Tudo lhes seria servido numa bandeja recheada de vultuosos investimentos e serviços públicos gratuitos, fornecidos pelas inúmeras instituições que todos os dias iam sendo criadas, nas quais se alojavam milhares de boys e girls cuja única competência conhecida era ostentarem um valioso cartão partidário.
Esse mundo, que nunca existiu a não ser na (de)mente de alguns, ruiu completamente, e 2011 será o "primeiro ano do resto nas nossas vidas". Vidas essas agora hipotecadas, resultado da irresponsabilidade colectiva que se abateu sobre Portugal, em especial desde que, entrados na Comunidade Europeia, nos julgamos no direito de, produzindo como pobres, viver como ricos.
A economia, ciência tão vilipendiada, sofre desse fatal defeito de ainda se reger por regras simples, desde a tão incompreendida lei da oferta e da procura ao princípio de que, no longo prazo, excepto quando da terra brota petróleo ou diamantes, um país só enriquece quando sistematicamente produz mais do que consome. Pois, que se saiba, não são conhecidos muitos casos de famílias, empresas ou países que, por meios legítimos, consigam enriquecer gastando sempre mais do que produzem.
Portugal quis contrariar, mais que as leis da matemática ou da economia, as mais básicas regras do bom senso. Centralizou o país a um nível inimaginável, que o vem levando à inacção e ao desespero de todos os que não vivem da teta do centralismo e das suas dependências. Legislou sobre tudo e sobre nada e criou múltiplas entidades públicas com o "objectivo" de prestar todo o tipo de serviços, desde os que deveriam ser exclusiva responsabilidade dos privados, até aqueles que nem ao diabo lembraria criar, pois nem ao diabo servem. O resultado só poderia ser um, a miséria!
Hoje o monstro tem mil caras e ninguém sabe como o travar, muito menos como o abater.
Um pais decente tem um estado forte, que cumpre as suas tarefas com decoro e de forma competente, um estado onde são prestadas centralmente apenas as funções que só ao estado respeitam, e que deixa aos governos regionais e locais a responsabilidade pelas funções que estes melhor desempenham. Um estado decente organiza o seu território de forma que a relação país-regiões-cidades-freguesias seja a mais eficaz, a que permite obter o melhor resultado com o menor custo. Um estado decente é aquele que exerce funções subsidiariamente aos seus cidadãos e às entidades por estes criadas, e não em concorrência desleal para com eles. Um estado decente é aquele que se dá ao respeito e respeita os seus cidadãos, que cumpre os seus compromissos e obrigações, que só contrata o que sabe poder pagar e que paga na data acordado o que contratou.
O ano de 2011, sendo o "primeiro ano do resto da nossa vida" tem de ser, apesar de tudo, um ano de esperança e optimismo. Porque quando o povo português perceber a mentira em que se encontra, irá arregaçar as mangas e perseguir a sua felicidade e conquistar o seu futuro, da única forma possível que é trabalhando mais e melhor, e exigindo a quem o governa que o faça com decoro, e que faça o que tem que ser feito. Independentemente da dor que provoca, saber que se esta a trilhar o caminho certo dá uma força capaz de mover montanhas, e neste momento só movendo montanhas é possível almejar um futuro melhor para os nossos filhos.
Se o pais não se regionalizar, se não fechar as entidades públicas cuja existência não se justifica, se não acabar com o regabofe de uma administração pública onde há mais dirigentes, assessores, carros, viagens e outras mordomias do que gente a trabalhar, se não respeitar os bons funcionários públicos que trabalham, muito e bem, em instituições importantes e úteis, se não deixar aos privados o exercício das actividades que só a estes respeitam, se não deixar de consumir mais do que produz e se não deixar de viver com o dinheiro dos outros, então, não só em 2011 mas durante muitos e muitos anos, será negro o nosso futuro colectivo, e nenhum jovem com talento quererá viver neste país. E então só nos restará a esperança que os nossos filhos daqui consigam sair, e só cá voltem em dias festivos.
Mas é nossa obrigação e direito lutarmos para que tal não aconteça e que o futuro da nossa freguesia, cidade, região e país, em suma, que o nosso futuro individual e colectivo seja melhor para que nele os nossos filhos possam encontrar espaço para a sua realização pessoal e profissional.
2011, mesmo se o "primeiro ano do resto das nossas vidas" deve ser um ano de optimismo e esperança!
Novo ano, nova esperança!
Ricardo Luz
Partner Gestluz Consultores
Dezembro 2010