Américo Amorim (1934-2017), Alexandre Soares dos Santos (1935-2019) e Belmiro de Azevedo (1938-2017) representam o melhor que Portugal produziu em termos empresariais. São três das, senão mesmo as três maiores referências do espírito empreendedor português das últimas décadas.
Tendo nascido com menos de quatro anos de diferença entre eles faleceram os três num período de dois anos. Nestas alturas é fácil fazer-se os maiores elogios, muitos deles sentidos e merecidos outros de ocasião, senão mesmo hipócritas. Apesar de fácil há ainda muita gente para quem eles representavam todo o mal do capitalismo, esse tão “malfadado sistema” que nos últimos séculos mais pessoas tirou da pobreza e mais riqueza proporcionou a indivíduos, famílias, regiões e países.
Não privei com nenhum deles, nem nas empresas deles trabalhei, mas não tenho a mínima dúvida que Portugal seria hoje diferente, para muito pior, se estes três homens não tivessem sido capazes de criar e feito crescer os seus “impérios” empresariais. Milhares de pessoas trabalharam e trabalham nas empresas por eles criadas, tendo apreendido neles o essencial do que sabem e muitas delas foram depois criar e/ou gerir outras empresas de sucesso. Dezenas de milhar de pessoas fizeram o essencial das suas carreiras profissionais nas empresas dos seus grupos, e com os rendimentos nelas obtidos constituíram famílias e educaram os seus filhos. Não é pouco. É muitíssimo.
Podemos sempre dizer que se eles não tivessem existido essas mesmas pessoas trabalhariam noutras empresas e/ou criariam elas próprias outros negócios, muitos deles também de sucesso. Estou certo que sim, que em parte isso aconteceria. Mas só quem julga o capitalismo um “jogo de soma nula” e não aquilo que ele é, um incrível mecanismo de criação continua de riqueza em que para uns ganharem não é obrigatório que outros percam, é que pode duvidar do legado que estes três homens deixaram e da riqueza colectiva que criaram e ajudaram a criar.
Nestas alturas há também quem diga que o Portugal lhes deve muito! Isso eu não sei nem é algo que me interesse sobremaneira. O que fizeram fizeram-no essencialmente por si e pelos seus, provavelmente impulsionados por uma enorme ambição e vontade de empreender, não para que o país lhes ficasse devedor de algo. Não tenho é dúvidas em que aqueles que os amaram e amam, em especial familiares e amigos, e aqueles que os respeitaram e respeitam, principalmente os que com eles conviveram empresarialmente ao longo das suas vidas, sentem muito a sua perda, bem como um enorme respeito e gratidão pelo que conseguiram e proporcionaram. Portugal não tem de lhes dever nem deixar de dever, mas muito bem lhe ficaria se os respeitasse, a eles e ao seu legado! Não foram seguramente santos nem demónios, pois ninguém o é. Tiveram bons e maus momento, acertaram e erraram, beneficiaram e prejudicaram terceiros com as suas decisões, em suma, foram humanos! Mas, no final da vida, feito o balanço do deve e haver, estou certo que o saldo é para cada um deles extremamente positivo, como foi ao longo dos anos o das muitas empresas por eles criadas e por aquelas que hoje não existiriam sem a sua acção ou inspiração.
Com a morte recente de Alexandre Soares dos Santos, após o falecimento há cerca de dois anos de Américo Amorim e Belmiro de Azevedo, foi como se tivesse terminado uma geração de grandes empresários. Para mim os três maiores do pós 25 de Abril. Homens do Norte, de Portugal e do mundo que marcaram muito do “meu tempo”. Outros apareceram e aparecerão, muitos deles bebendo do seu legado. É felizmente assim a, desejamos, interminável história do mundo.
Numa época em que tanto relevo se dá – e bem – às novas empresas, fruto do espírito empreendedor de uma geração que se crê cada vez melhor preparada, é bom termos a humildade para aprender com aqueles que em condições muitas vezes bem mais difíceis foram capazes de criar, para si e para outros, tanta riqueza.
Estes três homens descansam agora sabendo que valeu a pena a vida que levaram a cabo. Conseguiram o que, de uma forma ou outra, todos procuramos, o sentir que a nossa vida vale a pena e que quando partimos desta “vida terrena” deixamos ao mundo mais do que lhe tiramos. Saber que valeu a pena a nossa existência e que fomos um elo positivo desta interminável corrente que constitui a evolução humana não é pouco. É provavelmente quase tudo!
De mim deixo aqui expresso o meu respeito para com estes três grandes homens.
Nota: Este artigo segue a antiga ortografia por vontade expressa do seu autor.