Mérito (do latim merĭtu) ou merecimento é “a qualidade atribuída a uma pessoa cujo ato ou atividade foram reconhecidos como de grande valor”, conforme definição na Wikipédia.
São poucos os que não afirmam valorizar o mérito na sua vida profissional, como poucos são os que não afirmam contratar para as suas organizações pelo mérito dos candidatos, ou adquirir produtos ou serviços pelo mérito dos seus fornecedores. Enquanto sociedade, poucas palavras são mais repetidas e realçadas em Portugal.
Mas, infelizmente, sabemos que não é bem assim. O mérito nem sempre foi, nem é, o principal guia de muitas das decisões tomadas. Muitas vezes, é quem tem um “padrinho”, e não quem tem mérito, que consegue um emprego, que consegue vender os serviços ou produtos… que “vence”!
Não é objetivo desta reflexão determinar o porquê de tal facto, até porque para tal não sou qualificado, e as razões serão muitas. Tendo Portugal nascido da força aglutinadora de um Rei – diga-se, em abono da verdade, um dos primeiros grandes empreendedores portugueses, corajoso executor de uma estratégia e de uma vontade coletiva de autonomia – o seu desenvolvimento sempre se fez mais a partir de um “centro” onde as “elites” obtêm privilégios, não pelo seu mérito, mas pela sua proximidade ao poder, quando não subserviência perante o mesmo.
Não será, seguramente, a minha geração a mudar este “estado de coisas”, nem sei se tal algum dia acontecerá em Portugal, mas, se conselho posso deixar a jovens empreendedores, com competências e capacidades para vencer, é que lutem permanentemente para que seja o mérito e não a “cunha” a guiar as suas decisões e ações, que o promovam sistemática e incansavelmente. Não o façam pelo país, sendo que, se o fizerem, estarão a contribuir fortemente para o seu fortalecimento, mas por si mesmos.
Aquele que consegue um emprego, não porque tem capacidades para tal, mas porque pertence ao “partido certo” ou à “família certa”, ou porque tem o “padrinho certo”, pode até ganhar bem, pode até “caminhar de forma emproada, muito ciente do seu status”, mas sabe que não merece o que tem, e passa a vida subjugado àqueles que lhe proporcionam as benesses. Pode não parecer, mas é triste!
«Antes morrer livres que em paz sujeitos», expressão presente no Brasão de armas dos Açores, representa e honra a resistência do arquipélago à união da Coroa de Portugal e da Espanha. Era bom que, cada vez mais, representasse o estado de espírito de um povo empreendedor e livre.
Promover o mérito é promover a inovação, é promover a capacidade de se fazer bem, independentemente de quem se é e da “família” a que se pertence. É promover o empreendedorismo de uma geração de jovens altamente qualificados, capazes de vencer no mundo globalizado. É promover a verdadeira igualdade de oportunidades e não a igualdade nos resultados, esta só possível quando se limita o potencial dos melhores e se promovem artificialmente os piores.
Só a igualdade de oportunidades conduz, no médio e longo prazo, à melhoria generalizada da sociedade e da qualificação das suas populações.
No séc. XIII, o Rei Afonso II procedeu às inquirições, com vista a determinar a situação jurídica das propriedades em que se baseavam os privilégios e imunidades dos proprietários, e às confirmações que validavam as doações e privilégios concedidos nos anteriores reinados, após analisados os documentos comprovativos ou por mercê real. Hoje, dispensando nós novos reis, bem interessante seria proceder a inquirições sobre o mérito na obtenção de doações e privilégios nas últimas décadas.
Compete aos jovens, pelo seu próprio bem e pelo futuro livre dos seus filhos, lutarem pela concretização dos seus sonhos, mas suportando-os no merecimento das suas iniciativas profissionais e empresariais.
Enquanto sociedade, é fundamental proporcionarem-se as condições para que aqueles que se consideram capazes de criar e fazer crescer as suas iniciativas empresariais, o possam fazer.
Repetindo-me, e parafraseando pensadores liberais que o fizeram antes de mim, a liberdade individual, mais do que fator de promoção da abundância económica e da paz civil, é o princípio definidor do Homem, enquanto ser moral.
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