2018-08-14
Rob/Marx – o menino empreendedor!
Em “silly season” raramente há histórias de grande interesse. Mas, fui surpreendido por uma bonita e inspiradora, a de Rob, um menino com especial sensibilidade social e espírito empreendedor.
Em “silly season” raramente há histórias de grande interesse. Mas, fui surpreendido por uma bonita e inspiradora, a de Rob, um menino com especial sensibilidade social e espírito empreendedor.
Rob desde criança mostrava especial atenção para com os desprotegidos, o que aliado a um espírito irrequieto e empreendedor o fazia meter-se em lutas onde, qual D. Quixote, defendia os mais fracos dos seus opressores. O rapaz foi crescendo e, fruto de longas conversas com meninos, meninas e outros/as, que com ele partilhavam a mesma irrequietude e preocupações sociais, Rob foi definindo o seu caminho. Dizia ele, com piada, “é nestas longas tardes e noites, à volta de um bom gin tónico que as nossas consciências se arrebitam e a bondade se manifesta” … aí se era!
Já adulto, Rob juntava-se com alguns dos seus amigos e, à volta de uma fogueira ou de um copo de gin (quando não de ambos!), sonhavam com workshops onde se “desconstruiria a masculinidade tóxica” e se debateria a “propriedade, esse roubo”, entre outras igualmente boas ideias para ajudar quem mais precisasse. Dado o seu, já realçado, espírito empreendedor, Rob foi subindo na hierarquia político-social e chegou mesmo a mui aclamado Vereador da sua amada cidade.
Confrontado com os males do capitalismo, em especial na vertente “especulação imobiliária”, Rob assistia horrorizado às hordas de turistas e investidores que descaracterizam a sua “downtown” (como diziam os camones!). Não fosse tal mau o suficiente, a tresloucada procura por locais para pernoitar provocava uma onda especulativa de tal dimensão que, comparada, até a da Nazaré parecia coisa pequena. Sem ofensa ao grande McNamara.
E assim andava Rob, “em cuidados” com a atuação dos especuladores capitalistas, esses sugadores de lucros, que compram prédios velhos nas melhores zonas da cidade e os reabilitam para venda ou Alojamento Local (este, responsável maior pela gentrificação na “downtown”). O bom do Rob bem que gritava à força toda estas injustiças, mas ninguém o ouvia.
Pois bem, andava ele nisto quando um dia é interpelado pela sua querida irmã. A maninha, que adorava a “downtown”, queria muito nela viver. Rob, que mais que tudo queria ver a mana feliz, logo meteu “pés a caminho” e não é que, fruto do seu carácter empreendedor e alguma sorte – que isto do sucesso para alguns é 99% de inspiração e 1% de transpiração – encontra um zeloso funcionário da Segurança Social que penava para vender um prediozito com vista para um terminal de cruzeiros (quem iria querer tal!), que Rob, para o ajudar, decide comprar.
No entanto os seus parcos rendimentos não lhe permitiam adquirir o edifício, salvando-o da especulação imobiliária enquanto fazia feliz sua irmã. Mas mais uma vez a sorte protege o audaz e, num banco solidário, encontra uma “alma gémea” que lhe aprova de imediato um crédito para a benemérita aquisição e respectivos melhoramentos. E é assim que, com menos de um milhãozito, Rob transforma uma pobre “ruina” numa bonita “Cinderela”.
Porém Rob continuava inquieto. O prédio era grande de mais para nele viverem apenas os dois, quando tanta gente havia que não conseguia uma casa para morar. Vai dai decide construir mais um piso – rapidamente aprovado, como acontece sempre que um cidadão faz umas obritas – e divide tudo em apartamentos. Et voilà, ficavam os maninhos com 2 fracções e as 9 restantes arrendavam a gente necessitada, a “preços acessíveis”. E foi assim que, imbuído de nobre espirito de missão, Rob (re)construiu um prédio, transformando-o em 11 apartamentos, com áreas dos 25 aos 41 mts2. Humildes casinhas, como se vê.
E se a historia ia já bonita, a partir de certo momento torna-se comovente. Rob, discípulo intelectual de Marx (havia até quem, com alguma piada, lhe chamasse Rob/Marx num trocadilho feliz com Re/Max) julgava ter encontrado aqui a formula perfeita para conciliar o bem privado (o da sua maninha) com o bem publico (a reabilitação da sua amada cidade, com rendas acessíveis para combater a gentrificação) quando a falta de tempo – comum em criaturas tão trabalhadoras – o leva a cometer um pequeno erro.
Decide pedir a uma agencia imobiliária que coloque o imóvel no mercado, certamente no das “rendas acessíveis” e esta, talvez por incompreensão do que mais profundo corria em alma tão pura, coloca um anúncio de venda onde se dizia ser esta uma “oportunidade única em área turística no coração de cidade”. Não bastasse, decide, a imobiliária, avaliar o prédio em cerca de 5,7 milhões de euros, o que a concretizar-se geraria lucro (!!!). Certo que de apenas uns 4,7 milhões de euros. Mas lucro, que diabo!
Ora Rob fica que “não pode”. Então iria ele lucrar, correndo até o risco de ser confundido com um especulador imobiliário! Ficou de tal forma que decide já não ir viver para o prédio com a maninha (que deve estar desolada, tadinha!), tendo-o retirado de venda… não se sabe com que fim, mas muito provavelmente para o oferecer a 11 famílias desfavorecidas.
Saber-se que Rob não viu recompensado o seu espírito empreendedor e, em especial, a sua sensibilidade social e alma solidária, emociona a alma mais empedernida. Eu então, que até gosto do capitalismo e vejo a especulação imobiliária como positiva para a reabilitação das cidades, se/quando cumpre regras de mercado, livre e regulado, onde não se concedam favores e/ou exista aproveitamento de informação privilegiada e/ou de posições de privilégio. I.é., eu que, tal como no pai natal, ainda acredito que é possível existirem mercados livres e concorrenciais com oportunidades “iguais” para todos, fico comovido com tão inocente e enternecedora história.
Não sei porquê, pois não tem nada a ver com esta linda ocorrência, mas veio-me à memória uma expressão que ouvia na minha infância: “era quem lhe enfiasse um…”.
Nota: Este artigo segue a antiga ortografia por vontade expressa do seu autor.
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Rob desde criança mostrava especial atenção para com os desprotegidos, o que aliado a um espírito irrequieto e empreendedor o fazia meter-se em lutas onde, qual D. Quixote, defendia os mais fracos dos seus opressores. O rapaz foi crescendo e, fruto de longas conversas com meninos, meninas e outros/as, que com ele partilhavam a mesma irrequietude e preocupações sociais, Rob foi definindo o seu caminho. Dizia ele, com piada, “é nestas longas tardes e noites, à volta de um bom gin tónico que as nossas consciências se arrebitam e a bondade se manifesta” … aí se era!
Já adulto, Rob juntava-se com alguns dos seus amigos e, à volta de uma fogueira ou de um copo de gin (quando não de ambos!), sonhavam com workshops onde se “desconstruiria a masculinidade tóxica” e se debateria a “propriedade, esse roubo”, entre outras igualmente boas ideias para ajudar quem mais precisasse. Dado o seu, já realçado, espírito empreendedor, Rob foi subindo na hierarquia político-social e chegou mesmo a mui aclamado Vereador da sua amada cidade.
Confrontado com os males do capitalismo, em especial na vertente “especulação imobiliária”, Rob assistia horrorizado às hordas de turistas e investidores que descaracterizam a sua “downtown” (como diziam os camones!). Não fosse tal mau o suficiente, a tresloucada procura por locais para pernoitar provocava uma onda especulativa de tal dimensão que, comparada, até a da Nazaré parecia coisa pequena. Sem ofensa ao grande McNamara.
E assim andava Rob, “em cuidados” com a atuação dos especuladores capitalistas, esses sugadores de lucros, que compram prédios velhos nas melhores zonas da cidade e os reabilitam para venda ou Alojamento Local (este, responsável maior pela gentrificação na “downtown”). O bom do Rob bem que gritava à força toda estas injustiças, mas ninguém o ouvia.
Pois bem, andava ele nisto quando um dia é interpelado pela sua querida irmã. A maninha, que adorava a “downtown”, queria muito nela viver. Rob, que mais que tudo queria ver a mana feliz, logo meteu “pés a caminho” e não é que, fruto do seu carácter empreendedor e alguma sorte – que isto do sucesso para alguns é 99% de inspiração e 1% de transpiração – encontra um zeloso funcionário da Segurança Social que penava para vender um prediozito com vista para um terminal de cruzeiros (quem iria querer tal!), que Rob, para o ajudar, decide comprar.
No entanto os seus parcos rendimentos não lhe permitiam adquirir o edifício, salvando-o da especulação imobiliária enquanto fazia feliz sua irmã. Mas mais uma vez a sorte protege o audaz e, num banco solidário, encontra uma “alma gémea” que lhe aprova de imediato um crédito para a benemérita aquisição e respectivos melhoramentos. E é assim que, com menos de um milhãozito, Rob transforma uma pobre “ruina” numa bonita “Cinderela”.
Porém Rob continuava inquieto. O prédio era grande de mais para nele viverem apenas os dois, quando tanta gente havia que não conseguia uma casa para morar. Vai dai decide construir mais um piso – rapidamente aprovado, como acontece sempre que um cidadão faz umas obritas – e divide tudo em apartamentos. Et voilà, ficavam os maninhos com 2 fracções e as 9 restantes arrendavam a gente necessitada, a “preços acessíveis”. E foi assim que, imbuído de nobre espirito de missão, Rob (re)construiu um prédio, transformando-o em 11 apartamentos, com áreas dos 25 aos 41 mts2. Humildes casinhas, como se vê.
E se a historia ia já bonita, a partir de certo momento torna-se comovente. Rob, discípulo intelectual de Marx (havia até quem, com alguma piada, lhe chamasse Rob/Marx num trocadilho feliz com Re/Max) julgava ter encontrado aqui a formula perfeita para conciliar o bem privado (o da sua maninha) com o bem publico (a reabilitação da sua amada cidade, com rendas acessíveis para combater a gentrificação) quando a falta de tempo – comum em criaturas tão trabalhadoras – o leva a cometer um pequeno erro.
Decide pedir a uma agencia imobiliária que coloque o imóvel no mercado, certamente no das “rendas acessíveis” e esta, talvez por incompreensão do que mais profundo corria em alma tão pura, coloca um anúncio de venda onde se dizia ser esta uma “oportunidade única em área turística no coração de cidade”. Não bastasse, decide, a imobiliária, avaliar o prédio em cerca de 5,7 milhões de euros, o que a concretizar-se geraria lucro (!!!). Certo que de apenas uns 4,7 milhões de euros. Mas lucro, que diabo!
Ora Rob fica que “não pode”. Então iria ele lucrar, correndo até o risco de ser confundido com um especulador imobiliário! Ficou de tal forma que decide já não ir viver para o prédio com a maninha (que deve estar desolada, tadinha!), tendo-o retirado de venda… não se sabe com que fim, mas muito provavelmente para o oferecer a 11 famílias desfavorecidas.
Saber-se que Rob não viu recompensado o seu espírito empreendedor e, em especial, a sua sensibilidade social e alma solidária, emociona a alma mais empedernida. Eu então, que até gosto do capitalismo e vejo a especulação imobiliária como positiva para a reabilitação das cidades, se/quando cumpre regras de mercado, livre e regulado, onde não se concedam favores e/ou exista aproveitamento de informação privilegiada e/ou de posições de privilégio. I.é., eu que, tal como no pai natal, ainda acredito que é possível existirem mercados livres e concorrenciais com oportunidades “iguais” para todos, fico comovido com tão inocente e enternecedora história.
Não sei porquê, pois não tem nada a ver com esta linda ocorrência, mas veio-me à memória uma expressão que ouvia na minha infância: “era quem lhe enfiasse um…”.
Nota: Este artigo segue a antiga ortografia por vontade expressa do seu autor.
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